Rio dos bons sinais, de Nelson Saúte

29.06.2012 - Livro

Rio dos bons sinais, do moçambicano Nelson Saúte, apresenta a morte como principal tema

 Em seu novo livro, o autor utiliza o luto para tentar entender o que somos e rever conceitos 

Depois de O homem que não podia olhar para trás, lançado pela Editora Língua Geral e que faz parte da coleção Mama África, voltada para o público infato-juvenil, o moçambicano Nelson Saúte apresenta agora uma literatura um tanto singular. Em Rio dos bons sinais, seu novo livro de contos, a morte permeia todas as histórias, e a realidade e a ficção caminham lado a lado.

Eufrigino dos Ídolos, o homem que ia a todos os funerais com seu guarda-chuva amarelo, o enterro da bicicleta do popular deputado que tinha nove filhos, o ministro de Deus, a aldeia dos homens sem sombra, a vovó Mafaduco e a Menina dos Prazos são alguns dos curiosos, batalhadores e cativantes personagens que compõem os enterros, funerais e o luto que servem como cenário para a obra.

“Este é um livro de ausências. Sem grandes gestos, grandes batalhas, grandes epopéias, sem grandiloqüências ou arroubos filosóficos. As grandes aventuras estão no quintal da nossa casa, raramente nos horizontes exóticos e são os nossos olhos gulosos buscando o infinito que nos levam para o vazio dos gestos históricos”, afirma o também moçambicano Ruy Guerra, na orelha do livro.

Em Rio dos bons sinais, que integra a coleção Ponta-de-Lança, Nelson Saúte apresenta a relação com os mais velhos, a morte sob diversos ângulos, o que também revela as particularidades da cultura africana. No cenário da morte e do luto, Nelson revê os conceitos, a pobreza, o amor, a amizade, recorda a infância e mostra que a morte é um fato da vida e que pode nos ajudar a compreender o que somos.

A literatura do período do realismo fantástico de García Márquez, citado em um dos contos da obra, é, para o autor, uma literatura condizente à realidade africana, tão repleta de situações absurdas e surpreentes em seu cotidiano.

O autor

Nelson Saúte nasceu em Maputo, Moçambique, em 1967. É contista, poeta e romancista. Autor de A pátria dividida (poesia, 1993), O apóstolo da desgraça (contos, 1999) e Os narradores da sobrevivência (romance, 2000), entre outros. A Língua Geral publicou O homem que não podia olhar para trás (coleção Mama África, 2006), conto infanto-juvenil ilustrado por Roberto Chichorro.