Quando os marginais na literatura são os ricos
06.12.2012 - Livro

Luiz Ruffato esteve de passagem pela Suíça para apresentar “Eles eram muitos cavalos”,
a sua obra traduzida em quatro idiomas, inclusive o alemão.
Por Alexander Thoele,
Em swissinfo.ch
Entrevistado, o premiado escritor mineiro radicado em São Paulo, falou sobre o seu trabalho, as influências literárias e a dificuldades de um escritor no maior país da América do Sul.
Em um porão na parte antiga da cidade de Berna, um das pessoas presentes à leitura de Luiz Ruffato perguntou sobre o significado do nome do romance, publicado em 2001, que recebeu os prêmios APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional.
O escritor mineiro lembrou uma das grandes poetisas brasileiras. “Ele não tem nenhuma relação com o conteúdo do livro, mas sim é uma inspiração em uma poesia da Cecília Meireles que fala dos cavalos que morrem na guerra, lutando dos dois lados, e que ninguém sabe seu nome ou a sua origem”.
Algumas horas antes, nos estúdios da swissinfo.ch em Berna, Ruffato havia relelado a abordagem social que faz em seu trabalho. “Quero passar os olhos em uma classe social que nunca foi privilegiada no Brasil, que é a classe média baixa”. Essa postura permite a escolha dos personagens que permeiam o seu universo. “A literatura brasileira sempre tratou da classe média alta e de bandidos, mas nunca do trabalhador.”
Filho de um pipoqueiro e uma lavadeira analfabetos, descendentes de colonos italianos na cidade de Cataguases, em Minas Gerais, o escritor contou as peripécias que passou até conseguir publicar o primeiro livro. Depois de estudar comunicação social na Universidade Federal de Juiz de Fora, ele chegou a São Paulo, onde rapidamente conseguiu o primeiro emprego em um jornal. Sem dinheiro, foi obrigado a dormir várias semanas em um terminal de ônibus.
Anos mais tarde, já com um ponto elevado na grande imprensa brasileira, ele decidiu abandonar a profissão para se dedicar exclusivamente à literatura. “Foi um escândalo entre os meus amigos, pois eles falavam que isso não daria em nada”, conta.
E como ele despontou? A resposta não esconde um certo humor: “Graças às feiras literárias, pois estava sempre disponível de participar delas”.
A Feira de Frankfurt faz uma homenagem ao Brasil em 2013.