Perímetro humano, de Victor Loureiro

02.07.2012 - Livro

Sobre o livro

Perímetro humano, de Victor Loureiro, reúne poemas de faturas diversas, que estão subdivididos em três seções. Na primeira, sobressalta sua lírica mais plástica e sonora, com o registro do dia que se ergue “em bandeja granítica / rede de rios / sons, assobios”. Cores, formas, sons da natureza então se revelam de modo ao mesmo tempo encantado e realista, com topônimos e espécies que inundam os versos: “Tapes”, “Herval”, “sanhaço”, “tiê-sangue”, “araponga-mãe”, “jacarandá”, “jambolão” e “caviúna”, entre outros de rara beleza. Nessa primeira seção, o poeta estabelece um diálogo franco com a poética de Gonçalves Dias, atualizando sua sofisticação visual e melódica por meio de um verso livre de notável flexibilidade.

Na segunda parte do livro, a memória afetiva ganha relevo, misturando-se também à imaginação: “A capela da fábrica, / onde minha mãe se casou, / era, imagino, o labirinto / onde Deus trabalhara. // Minha melhor missa, / maior peregrinação, / foi ali, / mas do lado de fora”, entoa em “Jardins de capela”, um dos mais belos poemas de Perímetro humano. Se na primeira seção o espaço é todo de dentro, selvagem e vivo, agora começa a se estabelecer uma tensão entre o dentro e o fora, entre o imaginado e o vivido. A natureza perde seu espaço diante da ação do homem, e “Ícaro no céu / anuncia a ira de não poder mais / ver-se em voo no espelho d’água. / O óleo engoliu o mar, grudou na asa / que não colhe mais o vento e não decola”. Os versos perdem o tom elevado e chegam, com “Poema previsível”, a uma dicção bandeiriana, localizada em muitos momentos dessa segunda parte.

Por fim, Victor Loureiro envereda pelo espaço íntimo do cotidiano, do erotismo e dos metapoemas. É o lado de dentro — o lugar mais que pessoal — que se abre aos leitores. São delineadas com mestria tanto a gramática do corpo e do desejo quanto a da criação lírica: “Dobrar tão bem / tua carne faz do escultor // um ás no jogo de curvas, // capaz de esculpir / teu corpo como se // calçasse a pelica / nas luvas, // comesse o pão / nas espigas, // bebesse o vinho / nas uvas.”

Eduardo Coelho

 Sobre o autor

Poeta e biólogo, Victor Loureiro nasceu em 1958, em Paracambi, Rio de Janeiro. Seu primeiro livro de poemas, O outro e o outro, foi lançado em 1984, em parceria com o também poeta Eucanaã Ferraz. Em 1987, lançou Armazém do absurdo e, em 1998, Literal. Caminhando entre a ciência e a arte, fez especialização em Educação Ambiental e atua como gestor de cultura no estado do Rio de Janeiro.