Desmedida, de Ruy Duarte de Carvalho

02.07.2012 - Livro


DESMEDIDA: LUANDA – SÃO PAULO – SÃO FRANCISCO E VOLTA

Língua Geral publica no Brasil expoente da literatura angolana

Sobre o livro

Ao converter em livro a experiência de uma viagem pelo Brasil, Ruy Duarte de Carvalho insere-se na tradição de viajantes que, desde a carta de Caminha, têm registrado o que aqui se “oferece de espetáculo, de estímulo e de espanto”, nas palavras do autor deste surpreendente Desmedida.

Se é já antigo o gesto, o que explica a força dessa narrativa? Uma das respostas está no fato de o autor não vir da Europa em busca do “outro”, e sim de Angola, com outras motivações, indicadas ao longo do seu roteiro. Melhor dizendo, dos roteiros, o da viagem no plano físico e o da construção do texto, ambos mobilizados pelo interesse no Brasil contemporâneo que a incursão na geografia e na história permite encontrar.

Seu rumo é pautado pelo desejo de aferir a pulsação do São Francisco, cortando as terras que ganharam estatuto lendário nos textos de Euclides da Cunha e de Guimarães Rosa. Refratário à superficialidade de contatos supostamente naturais, o autor oferece-nos outra forma de avaliar o jogo de relações entre o Brasil e Angola, entre o Brasil e a África, examinando similitudes, contiguidades e contradições e confrontando a experiência da viagem com a leitura de textos fundamentais para a análise de nossa formação.

Temos, assim, uma visão em movimento do país que Ruy Duarte de Carvalho define como um espaço de fronteira. Para melhor expressá-la, a narrativa transita entre o ensaio antropológico, a abordagem histórica e o terreno literário, detendo-se em questões que têm preocupado o escritor, para quem não existiria “a hipótese de uma viagem que tivesse o São Francisco em conta e de um livro que não perdesse nunca de vista nem o lugar de onde eu estava a sair nem o lugar para onde, nem que só de mim para mim, onde quer que estiver, estarei sempre a voltar”.                                                       Rita Chaves

Sobre o autor

Ruy Duarte de Carvalho (Portugal, 1941-2010) participou na luta pela libertação de Angola e se tornou nacional desse país desde que em 1975 passou a haver cidadania angolana. Poeta, antropólogo, escritor e cineasta, publicou no Brasil as obras Vou lá visitar pastores e Os papéis do inglês. Desmedida, seu primeiro livro pela Língua Geral, foi laureado em Portugal, no ano de 2008, com o Prêmio Literário Casino da Póvoa. Ruy Duarte faleceu na Namíbia, onde residia. Era considerado por seus pares um dos maiores nomes da literatura de língua portuguesa.

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“Era uma pessoa que admirava, especialmente e não apenas como escritor, mas também uma referência como cidadão angolano.”

José Eduardo Agualusa

“Um angolano notável de uma obra de uma tal dimensão que neste momento ainda não é fácil de se avaliar. Felizmente que deixou essa obra que de certo modo todos podemos aproveitar dela e sobretudo as gerações que nos seguirem.”

Ana Paula Tavares

“Angola perdeu, na minha opinião, um dos pilares mais sólidos da sua literatura e da sua antropologia. Partiu o homem, o artista e o pensador, num corpo que reunia estas coisas com tal elegância e intensidade que parecia um ser de ficção.”

Ondjaki